quinta-feira, abril 28, 2011

Mrs. Jones em: sonhos, sabotagem e chiclete.



Uma linda tarde “Vanila Sky” indicava o fim do dia e Mrs. Jones atestava seu talento para a auto sabotagem. Sim, Mrs. Jones mais uma vez havia ignorado sua dieta número 9825 porque certamente aquele arroz e feijão com picadinho era muito melhor do que aquela banana picada com ração humana. Afinal, para que colocar um nome horrível em uma coisa com gosto horrível?

Adendo 1: sobre nome feio e sabor ruim.
Você já parou para pensar que tudo que é horrível tem um nome tão ruim quanto? Perceba: quiabo, ração humana, pimentão, abóbora, buchada, fígado, ervilhas etc. Agora compare com o nome das coisas gostosas: brigadeiro, Cheeseburguer, lasanha, pizza, coca- cola. O universo
sempre conspira.

Mrs. Jones não havia sabotado apenas sua dieta número 934287, havia sabotado também o seu trabalho. Aquelas onze milhões de provas e trabalhos para corrigir se multiplicavam como “gremlins” numa tempestade de verão paulistana. Sua falta de motivação era sua maior motivação para a arte de protelar com louvor. Poderia escrever uma tese de doutorado (que, aliás, levaria anos) ensinando como protelar com sabedoria! Entre outras sabotagens, havia faltado mais uma vez na academia o que a deprimia somente por 15 minutos. Contudo sua maior sabotagem era o uso indevido do marido, também conhecido como Cartão de Crédito.
Mrs. Jones passou horas se perguntando por que comprou mais uma vez uma coisa que não necessitava. Em dois segundos precisos concluiu, o que era muito simples, “não necessitava, mas desejava”. Maldito Capitalismo! Culpou Adam Smith, Tio Sam e até mesmo Oliver Cromwell. Era tudo culpa das revoluções burguesas. Seu saldo negativo certamente era culpa do alucinante consumismo injetado nas veias do terceiro mundo tupiniquim pelas seringas estadunidenses. Pensou em virar comunista, hippie e até mesmo monja, mas essa ideia também fora sabotada há alguns anos quando ainda pensava em mudar o mundo. Ela era mais proteladora do que revolucionária. Pobre Mrs. Jones, deveria concordar com pelo menos um precursor do capitalismo Liberal, John Locke que sempre dizia para suas filhas: “o homem é o lobo do homem”. O “tiozão Locke” tinha razão, maldito iluminista.
Seguindo seus pensamentos, Mrs. Jones se deprimiu quando parou de se enganar e concluiu que toda culpa era sua mesmo, afinal a escolha era sua. Por um minuto soube que esse papinho de escolha deveria ser uma forma dos caras capitalistas se eximirem de toda culpa da desgraça humana, o desejo. Todavia, largou a filosofia marxista e mergulhou na escolástica medieval propagada pelo clubinho dos papas, começou um momento auto - culpa e se castigou tomando purgantes. A noite não seria tão bela quanto o céu lilás e brilhante (vanilla-sky) daquela tarde de outono, se é que vocês entendem?
Pior que se auto culpar pelas próprias escolhas imbecis que fazia, era pensar. O pensar pode se tornar venenoso quando bem usado e pensar a consumia de tal forma que recorreu a Billie South, um dos únicos amigos da “old school” com quem Mrs. Jones dividia seus pensamentos. Seus encontros eram tragicômicos, especialmente porque os dois juntos criaram um reino “diárquico” onde ambos se coroaram “Drama queen e Drama king”.
No entanto, naquela conversa de quinze minutos com Billie, Mrs. Jones havia “se ligado” de coisas que um ano de terapia e muitos reais não a fariam ver.

Adendo 2: sobre amigos verdadeiros.
Amigos verdadeiros são assim: riem de sua desgraça, compram bebidas baratas para você. Eles também costumam pedir coisas emprestadas e devolvem anos depois com o próprio nome escrito. Eles aparecem e somem ao mesmo tempo. Nunca estão por perto quando precisa. Eles não hesitam em abrir sua geladeira, usar seu desodorante ou perfume importado. Mas quando te encontram, bastam quinze minutos para te colocar pra cima, sabe por quê? Porque os verdadeiros amigos falam a verdade de forma simples sem ofender. Falam o que
você verdadeiramente é, não competem com você e o mais importante, não te julgam quando mais uma vez fez a escolha errada. Amigo, na opinião de Mrs. Jones, era algo como tomar um porre de vinho, cerveja e saquê comendo sashimi e tomar chuva no verão. A desgraça e a felicidade ao mesmo tempo. Um verdadeiro paradoxo. “Forever Best Friends” era para os fracos.Obs. Guardar drogas para o suposto amigo, ajudar a esconder um corpo, mentir no tribunal, dirigir bêbado, ir em baile funk ou show de pagode, samba, sertanejo, forró e qualquer outra coisa que termine com “universitário”, eram referências de total uso indevido da amizade. Mas apanhar de pessoas maiores e mais fortes juntos ou correr dessas mesmas pessoas estava permitido.



Continuando...
O que Billy South havia dito era simples. Apenas uma pergunta quebrou Jones em mil pedaços. Ele disse:
_Até quando Mrs. Jones vai continuar se sabotando?
Mrs. Jones pensou consigo mesma, “Até quando meu Deus?” Engraçado a repercussão em seu cérebro.
Billie South continuou:
_O que é mais importante para você, seus desejos momentâneos ou seus sonhos? Seus desejos capitalistas te satisfazem por quanto tempo? Por alguns minutos? Quando dará espaço para seus sonhos se realizarem? Os desejos de sua alma importam para você? O que de fato é você Mrs. Jones? A derrota ou a vitória? Você não precisa ser a melhor sempre, precisa apenas ser você! Acredite a vida se torna mais segura quando você não tenta ser outra pessoa.
Em pensamento Mrs. Jones acrescentou que na vida também era seguro nunca mais repicar a franja ou usar alisantes em seus cabelos. O mundo era da escova inteligente.
Enfim, Mrs. Jones havia aprendido algo naquele dia, aprendeu o valor de uma escolha. Aprendeu que seus sonhos não saem da rota principal, é ela que sai da rota toda vez que compra algo que deseja e não necessita. É ela que perde o foco toda vez que come algo maravilhoso e cheio de caloria que não faz bem ao seu corpo. É ela que anda para trás toda vez que protelar é mais importante que executar. Entre outras lições Mrs. Jones aprendeu que é impagável dividir uma coca- cola e um chiclete com Billy South.
_ Billy, quanto você tem no bolso?
_ algumas moedas, deixe-me contar;
Segundos depois South respondeu:
_Eu tenho ao todo dois reais e você?
_ Eu tenho um real. Respondeu Mrs. Jones.
_ Ótimo, da para comprar uma coca- cola e um chiclete.
Então, simultaneamente responderam um ao outro:
Perfeito.
Dividiram o chiclete. Tomaram a coca-cola e cada um seguiu seu o caminho.


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