quinta-feira, abril 07, 2011

16 + 16 = 32.

>Quando eu tinha dezesseis anos, havia passado somente dois anos da queda do então ex- presidente da república tupiniquim do Brasil, o senhor Fernando Collor de Melo. Eu havia participado de alguns protesto dos “caras-pintada”. Imagine só que naquela época era perfeitamente normal um ser humano de treze anos sair sem autorização, assinada pelos pais e reconhecida em cartório participar de um protesto de âmbito internacional - porém com influência total da Rede Globo. Confesso que achei que iam jogar a polícia montada em cima da gente, e eu sairia cantado “ Caminhando e cantando seguindo a canção” ou qualquer outra música do Caetano Veloso, Gilberto Gil ou Elis Regina. Com um olhar de indignação e mãos empunhadas eu bateria de frente com policiais militares com seus cassetetes e balas de borracha. Eu tinha visto tudo isso nos seriados da Globo, “Anos Dourados” e “Anos Rebeldes”, e estava crente que tudo aquilo aconteceria naquele dia em que a diretora da escola nos dispensou para então participarmos do movimento. Eu fui contente e feliz, oh! Eu estava participando ativamente de um capítulo da história do meu país. E o pobre do meu país merecia cada ato de patriotismo meu, afinal, o meu país me dava livros e merenda escolar e eu queria cantar Gilberto Gil na rua.
Aquela gente toda se aglomerou na praça central da cidade, e ali, aos treze nos “dei de cara” com a realidade. Não havia Gilberto Gil, tampouco Elis Regina. Onde estava a cavalaria e a violência descrita pela banda Titãs naquela música “polícia para que precisa polícia para quem precisa de polícia”?. Ah não, que isso? Onde eu vim parar? E porque essas pessoas todas estão bebendo se beijando e não gritado “FORA COLLOR”? E... Não acredito, ao invés de tocar Gil, Caetano e Elis, estão tocando Guns and Roses? Naquele momento eu tive uma visão, “esse pais tá perdido” música estrangeira em um movimento nacional?
Três anos se passaram e com dezesseis anos, eu já era fã de Guns and Roses, detestava Gil, Caetano, apreciava ainda algo da Elis. Já não era assim tão patriota e queria mais do que nunca ter dezoito anos e enfim LIBERDADE. Com dezesseis anos havia terminado um namoro com um menino que eu tinha certeza que seria o único amor da minha vida toda. Eu pensava em me casar com ele e morar num “puxadinho” nos fundos da casa dos pais dele. Com dezesseis anos eu convencia minha mãe o quanto era terrível para minha vida social e sanidade mental ela não me deixar sair e ir ao shopping com meus amigos. Com dezesseis anos eu realmente achava que eu era a menina mais gorda da turma, a mais feia e a mais rejeitada por todos os meninos gatinhos que eu conhecia. Com dezesseis anos eu achava que o homem perfeito era praticamente um príncipe encantado, ele teria o rosto do Tom Cruise, o corpo do Silvester Stallone, os olhos do Rob Lowe, a rebeldia do Axel Rose e cantaria para mim “Never say goodbye” igualzinho ao Bon Jovi. Com dezesseis anos eu realmente me perguntava por que todo mundo me perseguia, seria uma conspiração para acabar com o meu sossego? Seria uma forma conveniente de me anular socialmente? Porque esses meninos só falam em sexo? Porque meus país acham que sou escrava deles? Quem foi o retardado que inventou a escola, a Matemática, a Física e a Química? E que “raio” é esse de orações coordenativas? Até parece que alguém fica pensando nisso quando vai falar. Porque eu tenho que saber isso? E porque a escola tem que enviar para minha mãe essas convocações de reunião? Só porque eu estou pela milésima vez de recuperação em Matemática, Física, Química e Desenho Geométrico?
A vida perfeita para mim era comer, beber e dormir bem, eu queria ser a VASP (vagabundos anônimos sustentados pelos pais) perfeita, ter mesada e sair e chegar a hora que eu bem entendesse. Poderia ficar um fim de semana inteiro acordada que segunda-feira chegando na segunda aula tudo estaria resolvido.
Os anos se passaram, especificamente dezesseis anos e cá estou rindo de minha doce inocência. Durante esses dezesseis anos, conheci pelo menos cinco homens que foram o “único grande amor da minha vida”. Passei por um casamento, um divórcio e às vezes passo horas preenchendo bilhetes de reunião para os pais dos meus alunos. Incrível como o futuro é criminoso. Eu que já fui uma aluna terrível, agora odeio, digo ensino alunos terríveis.
Sobre os meninos de trinta e poucos anos, bem, para minha surpresa eles continuam exatamente iguais, só pensam em sexo. E sobre eu me achar a menina mais gorda e feia do grupo, bem hoje sou a mulher mais gorda do grupo de amigas, porém me acho a mais bonita de todas - essa opinião foi resultado de anos de terapia. Sabe aquela máxima que diz algo do tipo, “eu era feliz e não sabia” ou eu era “magro e não sabia”? Pois bem, é muito verdade. Atualmente, se eu ficar um fim de semana inteiro sem dormir provavelmente ficarei doente, irritada e mal humorada. Mas o mais interessante, é que hoje me conformei que não existem príncipes com o rosto do Tom, olhos do Rob e rebeldes como Axel, a propósito o próprio Axel Rose está mais civilizado, e também nunca ninguém vai cantar “Never say goodbye” igual ao Bon Jovi pra mim, a não ser que ele queira ...
Dezesseis anos se passaram, e tudo que aprendi é que vale a pena sonhar, sonhar alto mesmo, porque sonhar te mantém vivo, acordado. Também aprendi que vale a pena estudar, ler bons livros e saber um pouco de Química e Física caso você precise limpar o seu banheiro e saber que não se deve misturar cloro com outros produtos de limpeza, a intoxicação é terrível. Agora eu acredito na importância do saber matemática para não se meter em encrencas com o cartão de crédito e o cheque especial. Também aprendi a respeitar a opinião de todos a minha volta e não discutir a cor do cabelo perfeita. Aprendi que depilação dói demais e que pelos existem somente para gerar emprego. Aprendi que meus pais economizaram “pra caramba” me tornando a escrava deles. Aprendi que a pessoa certa ao meu lado me faz acreditar no que sou, e a pessoa errada ao meu lado me faz acreditar naquilo que eu não sou. Aprendi realmente que a vida é uma caixinha de surpresas e que o inesperado sempre acontece e o esperado nunca acontece! Aprendi a dar valor a pequenas coisas como um pedaço de peito de frango grelhado com salada de chuchu. Aprendi que o amor da minha vida é bem diferente do homem da minha vida. Compreendi que nunca devemos esperar de uma pessoa aquilo que ela não pode dar. Aprendi que todo “menino” é um homem quando quer e que todo homem é um “menino” escondido numa capa de super homem. E o mais irônico da vida, é que só terei certeza mesmo de tudo que escrevi cinco minutos antes de morrer. FIM.

2 comentários:

Kátia Solar disse...

I loved it my intelligent friend!

Mara disse...

Amei a sua crônica, muito realista, passei pelas mesmas certezas e incertezas, parabéns.