terça-feira, agosto 09, 2011

Não sou mais aquele bolinho

Donna Maria Pagu  Celestine  Jones e sua nova vida de tortinha.
Há algum tempo Donna Maria observava ao seu redor milhares de bolinhos andando para lá e para cá. Em seu canto apreciava o andar daqueles bolinhos em seu formato perfeito para agradar àqueles que consomem bolinhos. Eram bolinhos com sabores diferentes, havia recheio de hipocrisia e havia recheio de medo. Havia recheio sabor criatividade e bondade. Havia recheio sabor alegria e espontaneidade e havia recheio feito do mais puro rancor e sacanagem. O recheio que Donna Maria Pagu mais achava interessante era o recheio da soberba  por que desse recheio estavam cheios os bolinhos que ficavam na principal prateleira daquela grande fábrica de bolinhos. Embora naquela fábrica houvesse recheio que deliciava o paladar de Donna Maria Pagu, ali também eram criados recheios que atacavam diretamente seu estômago, seu fígado e seu  intestino então, Donna Maria Pagu  decidiu não degustar desses sabores que por fora apresentavam o melhor “glassé” coberto pelo melhor  morango e a melhor  raspa de chocolate mas, por dentro eram só gordura hidrogenada e açúcar  que a adoeciam facilmente. Esses eram bolinhos muito admirados e degustados.



Naquela vila de Operários todos os moradores adquiriam bolinhos daquela fábrica e por um tempo a Fábrica tornou-se um excelente empreendimento para todos que solicitavam bolinhos para suas festinhas particulares. Confeiteiros e mais confeiteiros passaram por aquela cozinha e cada um inventou ou reinventou um bolinho ou um recheio novo. Alguns confeiteiros acharam melhor tirar da linha de produção bolinhos que já não encantavam mais o público ou que não se adequavam mais ao formato de bolinho.
O tempo passara e todos os dias, Donna Maria se levantava e pedia a Deus que mudasse seu recheio ou seu sabor, porque ela não queria ir para o “cemitério de bolinhos” onde eram depositados aqueles bolinhos que não passavam pelo rígido programa de qualidade daquela fábrica. Por vezes Donna Maria permitiu-se machucar para ser ncaixada naquela forma. Dolorida voltava para casa recolhendo seus pedacinhos tentando coloca-los novamente no lugar, mas um dia tudo mudou.
Cansada daquele dia cheio onde sua linha de produção não parou nenhum um minuto, Donna Maria decidiu ir ao cinema tentar ver outra coisa que não fosse bolinhos. Sentada em um banco com sua pipoca e pensamento longe, duas senhoras de outra fábrica começaram uma conversa e para espanto de Donna Maria aquelas senhorinhas oraram por ela na fila do cinema. Não requisitaram a origem de seu formato e tampouco questionaram seu recheio ou sua cobertura, elas apenas viram sua alma e ali oraram por ela.   
Ao chegar em casa Donna Maria Pagu foi dormir e emocionada pediu a Deus que a ajudasse a não ter um formato mas sentir o verdadeiro sabor da experiência com Deus e então caiu nos encantos de Morpheus, dormiu levemente como um bolinho light.
Naquela manhã ao acordar queria dizer a todos sobre seu encontro com aquelas senhorinhas da outra fábrica. Ficou tão feliz e sentia em seu mais profundo recheio que algo poderia ter mudado. Passou a sair da fábrica e conhecer outras fábricas. Estava em busca do recheio perfeito. Experimentou novas ervas e temperos. Experimentou  novos açucares e novas formas de preparo. Não achou a melhor receita mas essa pesquisa de sabores ajudou a concluir o seguinte:
Ela não era um bolinho e sim uma tortinha.
Uma tortinha não deveria estar em uma linha de produção de bolinhos. Uma tortinha jamais seria aceita por adoradores de bolinhos. Uma tortinha não era menos ou mais que um bolinho, era só uma tortinha!
Certo dia, um cozinheiro- chefe do Controle de qualidade para bolinhos felizes observou aquela tortinha e concluiu: “Isso não é um bolinho é uma tortinha!”. Foi assim que Donna Maria Pagu Celestina foi arremessada no cemitério de Bolinhos.
Cinco minutos depois, Donna Maria, levantou-se e espanou a farinha que havia ficado em seu corpo. Olhou para aquela Grande Fábrica de Bolinhos e agradeceu ao Dono da Fábrica por ter sustentado sua vida de bolinho enquanto pode. Agradeceu porque ali aprendeu tantas receitas e teve tantos admiradores de bolinho/tortinha e ainda conheceu os melhores e os piores recheios que um bolo pode ter. Agradeceu também por que ali compreendeu que a vida de uma tortinha tentando ser um bolinho era doentia.
Assim pode prosseguir seu caminho livre da forma de bolinho e pode ser a tortinha que sempre quis. Não uma torta de fina cobertura e recheio duvidoso, mas sim com recheio intenso.
Certa vez, em seu caminho foi indagada sobre aquela fábrica de bolinhos e então respondeu:
_Eu não sei, eu não sou mais um bolinho!



5 comentários:

Andre LL. disse...

E VIVAM AS TORTINHAS! Eu to mais pra uma coxinha dakelas bem gordurosas... hehe! Fazer o que né... somos o que somos! Lindo texto!

Anônimo disse...

somos quem podemos ser....sonhos que podemos ter!

Prof.ª Caroline Vilasboas disse...

Meu, amei seu texto e contexto. Vc sempre foi minha guloseima preferida, independente de torta ou bolinho. No mundo real não existem bolinhos felizes, e a GRANDE parte deles dá gases.

Mariana disse...

Tu es magnifique... ton texte Je ne suis plus un petit gateau est tres interessant... bisous a la tarte plus delicieuse

Maricela disse...

Vc e suas comidas melabolantes como minha irmã diz!!! shashuahsu, otimo blog!!1 ;)